"NÃO SOMOS ANIMAIS! OU SOMOS?"
25/07/2010
Marcelo Gomes
Marcelo Gomes
á muito venho dizendo que os seres humanos, diferentemente dos animais, não devem agir por instinto, mas, sobretudo, por princípios e convicções. Sei que não é o que a maioria das pessoas deseja ouvir, sobretudo nos dias de hoje. Slogans do tipo “siga seus instintos” fazem mais sucesso e encontram número cada vez maior de adeptos. É a pós-modernidade.
nstintos são inclinações comportamentais inatas, ligadas a questões vitais e de sobrevivência (acasalamento e procriação, autodefesa, alimentação, etc.), às quais o organismo recompensa com sensações de satisfação e prazer. Não nego sua presença e importância na constituição humana, mas defendo que nos tornamos distintos dos demais animais à medida que os submetemos aos valores que adquirimos e preservamos ao longo de nossa história. Comportamentos unicamente instintivos são animalescos, degradantes e indignos de um ser humano criado à imagem e semelhança de Deus.
o entanto, o pecado que afasta de Deus é também a força que move a pessoa na direção de sua própria vontade, conforto e bem-estar. Pecado é orgulho e egocentrismo, vaidade e autodeificação. Seu poder consiste na ilusão do prazer permanente e da satisfação dos desejos mais íntimos. Ele reduz a importância dos princípios ou convicções, abrindo novamente as portas para um comportamento instintivo e irracional. Emoções favoráveis tornam-se o centro da vida.
resultado dessa equação, porém, é desastroso. Os mesmos instintos que conduzem ao apetite sexual desenfreado, ao vício, à gula e às experiências de prazer sem limites, conduzem ao ódio, à violência, aos homicídios e a toda forma de agressão ao próximo. Instintos trabalham na busca do que o organismo considera essencial, mas também na defesa de sua integridade e primazia, contra as ameaças que o outro, às vezes, representa.
o que vemos, todos os dias, na televisão e nos jornais: o atleta famoso, conhecido por sua vida promíscua, mata a ex-amante que reivindica recursos financeiros; o advogado bem sucedido, propenso a reações violentas, mata a ex-namorada por não aceitar o rompimento da relação; o garoto de classe-média, acostumado às farras regadas a muita bebida, esfaqueia outro rapaz da mesma idade na saída de uma casa noturna, enciumado por causa da menina; o jovem usuário de drogas, precisando sustentar o vício, matou a avó, com quem morava, enterrando-a no quintal da casa. E a lista é enorme.
s pessoas perguntam: como pode alguém ser capaz de cometer tamanha atrocidade? A resposta me parece óbvia: pessoas que sempre viveram seguindo seus instintos, indiferentes aos padrões de Deus para a vida e os relacionamentos, serão impedidos por estes no momento crítico, quando aqueles exigem a violência, a agressão e o crime, em nome da autodefesa e da manutenção dos espaços de prazer? Certamente não. O organismo já está habituado; responde sempre positivamente aos apelos instintivos. A consciência já está cauterizada; tornou-se incapaz de julgar e reprimir instintos nocivos. Não passa de uma estrutura animal e sem percepção ética.
Palavra denuncia a vida instintiva como idolátrica e adverte: o “deus” dessas pessoas é o ventre. Propõe, como caminho de vitória, a renúncia ao “eu” e a apresentação do corpo como sacrifício vivo, santo e agradável. Insiste que o Reino de Deus não é comida ou bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo, que é nossa garantia de um prazer que não passa e de uma satisfação que não tem fim. Se não nos rendermos a Cristo e a seu exemplo de triunfo sobre os instintos mais básicos (afinal, deu sua vida por nós), seguiremos como animais que usam roupas elaboradas, comem em mesas bem postas e fazem suas necessidades em aparelhos de cerâmica, mas cujas escolhas fazem da vida uma verdadeira selva. Nada mais que isso.